"Quando o Sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar o barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal
Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer, la la la
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir, ô, ô
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal
As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval"
Letra: Paulo César Pinheiro.
Outras palavras...
Toda vez que escuto Clara Nunes cantando "As forças da natureza" (embora outros artistas também a tenham gravado, pra mim essa interpretação é definitiva), penso a mesma coisa: "como essa mensagem é atual", visto que a gravação original é de 1977 - e de tão forte, batizou um de seus discos. Sempre me perguntava de onde haveria brotado tamanha sensibilidade para vislumbrar esse cenário que pertence muito mais ao século atual, que aos assuntos abordados num contexto passado.
Pois é, só depois de ler o livro de Paulo César Pinheiro ("Histórias de Minhas Canções", repito pela última vez) é que pude entender o que realmente aconteceu, como se deu essa curiosa inspiração! PC revela que de fato considera essa composição como sendo um "poema premonitório"! Ele foi composto em 1976, numa época onde ainda não se falava em catástrofes ambientais, em aquecimento global, desmatamento, buraco na camada de ozônio, embora esses sejam problemas que não começaram hoje. Nesse ano, o poeta, dando vazão mais uma vez ao seu lado místico (que é fortíssimo, basta conhecer sua obra e suas histórias mais a fundo), teve o que ele chama de "visão", um tipo de insight, digamos...
O cenário, posteriormente descrito na composição, se mostrou para PC num filme, numa espécie de slide que se alternava rapidamente. Descreve o que seria algo semelhante a Segunda Guerra Mundial, cercada por muitas mortes, mas que, curiosamente, no final da experiência cósmica, apontava para um final feliz, um renascimento, uma espéie de redenção para toda humanidade! É o retrato da natureza perdendo totalmente a paciência e partindo para resolução dos problemas que nos aflingem hoje.
Foi após essa experiência até certo ponto perturbadora que ele conseguiu compor a letra e diz que acompanhar notícias de fenômenos naturais acontecendo com tamanha frequencia, só faz aumentar sua certeza de que teve mesmo uma espécie de premonição naquele dia! A parte boa disso tudo é que no fim das contas, apesar das catástrofes que a letra aponta, ela também sugere algo novo, bonito, libertador!
...
É com essa história fantástica que termino a séria de postagens em homenagem ao "poeta da voz" nas 'quartas da poesia' de junho! Espero que a maioria tenha gostado das canções e das histórias apresentadas.
Beijo, beijo.
Jr Vilanova.
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