quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"A CANÇÃO DO AFRICANO"



"Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...


De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!


"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!


"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!


"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...


"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".


O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!


O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.


E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!"

Castro Alves.


Outras palavras...


No mês dedicado a negritude, trago a poesia de Castro Alves pro blog! Oportunidade de revisitar as palavras de compaixão desse poeta que soube como estender a mão aos seus irmãos de cor.

Um belo dia pra vocês!

Jr Vilanova.

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

SALVE AS FOLHAS


Queria aproveitar a temática dessa semana, as comemorações do 20 de novembro, pra falar do filme: “Jardim das Folhas Sagradas”, 2011, direção de Pola Ribeiro! Antes das minhas percepções, uma informação importante: Trata-se de um drama que segue os preceitos da geração Super-08, ou seja, um grupo de cineastas que optam em seus filmes por temáticas envolvendo o candomblé, a ecologia e a intolerância de uma forma geral. Póla Ribeiro se enquadra, portanto.


Pelo título e pelas explicações iniciais já é possível prever os caminhos dessa estória. A trama acontece numa Salvador divida entre vários conflitos e o filme antes de tudo se predispõe a diminuir impactos. Minimizar distâncias. Esclarecer. Comigo pelo menos foi assim. As filosofias das diferentes religiões afro-brasileiras ainda representam uma incógnita para muitos e a arte mais uma vez aparece para nos salvar do famigerado preconceito. A especulação imobiliária apagando o passado, transformando bairros inteiros em não-lugares é outro ponto marcante! É a partir desses pontos que o filme desperta uma importante reflexão.


Bonfim é um bancário bem sucedido, negro casado com uma mulher branca evangélica e bissexual – e com certeza esse dado não aparece numa trama da geração Super-8 por acaso. Apesar da vida aparentemente estabilizada é chamado a aceitar seu destino: dedicar-se a fundação de um centro de candomblé. Dilema maior impossível. Sua aliança com a religião vem de berço, herdada de seus antecessores e determinada desde o seu nascimento. O destino por sua vez, cansado de esperar por um posicionamento, resolve tomar as rédeas da situação. Outro ponto muito curioso é o questionamento feito em relação aos costumes e tradições milenares trazidos da África, como a matança de animais em rituais religiosos. Na trama Bonfim é filho de Ossain, o deus africano protetor das folhas, e defende a realização de cultos mantidos com o verde das matas.


Tudo muito romântico até aqui, só que a vida real costuma ser bem mais madrasta do que aparenta. Mostra-se impiedosa quando o personagem principal decide ignorar seu destino e evita o enfrentamento das intolerâncias, o preconceito, as atuais dificuldades inerentes aos praticantes da religião dos orixás. Além do personagem principal, vivido por Antônio Godi, fazem parte os atores João Miguel, Érico Brás, Harildo Deda, Evelin Buccheger, Sérgio Guedes, o Bando de Teatro Olodum, que brilhou no festejado "Ó Pai Ó", e até as cantoras Marienne de Castro e Virgínia Rodrigues. Todos se esforçam para contar uma trama que demorou 11 anos para ser concretizada. Na trilha sonora, destaque para Maria Bethânia e Gerônimo, imprimido baianidade com a canção título: "Salve as Folhas".


Apesar das limitações encontradas na maioria das obras brasileiras com pouco recursos, acredito que o filme consegue alcançar seus objetivos. E por isso, pela coragem de se abordar temas tão delicado, pela necessidade cultural que temos de entender o desconhecido e pela quebra de antigos tabús que o trago como indicação de pro blog.

Fica a dica!
Jr Vilanova.

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"RESPLANDECE"


Segunda-feira chegou pra acelerar um pouco mais a contagem regressiva de 2011! Mais um ano se despede e parece ter pressa, contudo, em meio a horas tão nervosas, mais um dia resplandece para pensarmos em tudo que ainda precisa ser realizado antes do último dia do ano se despedir... vamos aproveitar cada segundo! Abaixo o desperdício!

E eu por minha vez, ainda em clima de 20 de novembro, vim desejar uma excelente semana e seguindo na mesma energia trago uma dica bem legal...

Erudito e atabaques...
A primeira não se trata de nenhum lançamento. O trabalho da baiana Virgínia Rodrigues saiu em 2003 pelo selo Edge, da gravadora alemã Deutsche Grammophon, especialista em música erudita, técnica utilizada por Virgínia para cantar. Dirigido pelo padrinho musical Caetano Veloso, o CD lançado simultaneamente no Brasil e EUA chama-se ”Mares profundos”, onde interpreta 11 afro-sambas compostos por Vinícius de Morais e Powell, misturando jazz com atabaques baianos. Entre esses clássicos estão: ”Canto de Ossanha”, “Berimbau” e “Lapinha”, além de “Tristeza e solidão”, “Canto de pedra preta”, “Tempo de amor” etc. Esse é um dos meus discos preferidos. Faz parte da minha coleção e embora mais raro que os demais, ainda é possível encontrá-lo por aí, por isso também a indicação.
Talvez atualmente a idéia do projeto não seja necessariamente uma novidade, mas ainda assim, tudo que a voz única de Virgínia alcança é inevitavelmente tocado pela originalidade. O encarte, com fotos de Mário Cravo Neto traz textos e letras de música em inglês e português. Realmente um trabalho de qualidade irretocável pra gringo ver, mas pra todo brasileiro se orgulhar também!

Um beijo especial e obrigado pela visita!
Jr Vilanova.


 

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domingo, 20 de novembro de 2011

NEGRA EXPERIÊNCIA (HOMENAGEM AO 20 DE NOVEMBRO).

Ancião africano, simbolo da sabedoria ancestral.


Juro, não perguntei nada. Foi ele quem pegou minha mão, respirou fundo e falou com voz e feição cabocla: “Toda expricação tá no teu pai, meu fio!”. Automaticamente pensei qual a propriedade que aquele senhor aparentemente tão ignorante teria pra falar de psicologia comigo. Ainda mais de uma relação familiar tão íntima, querendo me dar conselhos sobre o que nem conhecia. Foi quando ele me olhou mais uma vez como se estivesse lendo minha mente e fez a revelação: “Tô falando é do seu pai Ogum”!

...

Tudo o que sabia era que no sincretismo religioso Ogum seria São Jorge. Mas qual a minha ligação com o deus africano? Ansioso por descobrir, iniciei minha reveladora pesquisa tendo a internet como ferramenta. Precisava entender melhor o que ouvira e já no primeiro site visitado fiquei boquiaberto. As características atribuídas aos filhos de Ogum são: “...pessoas determinadas, com vigor e espírito de competição. Mostram-se líderes natos e com coragem para enfrentar qualquer missão, mas são francos e, às vezes, rudes ao impor sua vontade e idéias. Arrependem-se quando vêem que erraram, assim, tornam-se abertos a novas idéias e opiniões, desde que sejam coerentes e precisas. As pessoas de Ogum são práticas e inquietas, nunca "falam por trás" de alguém, não gostam de traição, dissimulação ou injustiça com os mais fracos. Também podem ser impetuosos, autoritários, cautelosos, trabalhadores, desconfiados e um pouco egoístas." E agora o arremate final, data do orixá: 13 de junho, dia do meu aniversário! Parecia estar diante de um mapa astral completo!

Meus amigos que falem por mim! De repente, ali estava exposto numa tela de computador, desnudo num único parágrafo! Ok, alguém pode me dizer: "coincidência". Essa eu até posso aceitar, no horóscopo isso acontece quase que diariamente, mas como um homem de pouca instrução, que nunca havia me visto na vida, que não sabia nada sobre mim poderia me dizer tanto numa frase, mum toque de mão? “Mistério sempre há de pintar por aí”...

O que há de concreto mesmo nessa história é que tal experiência me possibilitou descobrir o quanto de negro pulsa dentro de mim. Onde estavam escondidas as raízes africanas que cada brasileiro carrega latente e que muitos se negam veementemente a admiti-las. Não precisei aderir a nenhuma religião para refletir imparcialmente. A negritude está bem mais perto... misturada nas curvas avantajadas, no tempero carregado, na rebeldia dos cabelos, na vibração da música, na dança cheia de malícia, nas energias que brotam da terra, mar, água e ar! Coisas tão presentes e tão renegadas por tantos (pré)conceitos equivocados!

Hoje, 20 de novembro de 2011, Dia da Consciência Negra, resolvi dividir essa experiência emblemática e quero dedicá-la a todas as religiões de origem africana que mantêm-se fiéis as suas filosofias milenares e travam uma luta de resistência diária! Salve Zumbi, Chica da Silva, Anastácia, Nelson Mandela, Martin Luther King, Bob Marley, Mãe Meninninha do Gantóis, Aleijadinho, Pelé e tantos negros que ajudaram a escrever a história... Não é apagando nossa memória cultural que seremos mais felizes!

“Ogum Ieé”!

Jr Vilanova.

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sábado, 19 de novembro de 2011

NÃO SOU BOM!


Pra não perder o costume, resolvi analisar alguns posicionamentos e esses prometem ser bem polêmicos. Não demorou e veio a primeira conclusão: não sou uma pessoa boa! Deve ser difícil ler isso sem se assustar um pouco, mas explicar nem tanto...

É que acredito estar muito mais apto ao papel de justo, do que de bom. Aliás, devo confessar, nem simpatizo muito com os bonzinhos - embora reconheça que também precise de um bonachão por perto quando as coisas dão errado. O bom é aquele que tudo entende, tudo perdoa, faz o bem sem olhar a quem e oferece o outro lado da face quando agredido. Já o justo é diferente, não se impressiona com facilidade, costuma ser mais crítico e só se comove quando uma boa intenção se sobrepõe nitidamente ao erro. Quando o fim justifica os meios.

Consegui ser claro? Ah, e não ser relativamente bom também não quer dizer que você seja necessariamente ruim! Exemplo trivial: se vejo no telejornal alguém sofrendo por ter ficado tetraplégico depois de dirigir embriagado, dificilmente me compadeço. Causa e efeito, ponto. Mas se a próxima notícia mostrar alguém que perdeu a unha do dedão direito por um erro médico, não demora pra que eu me solidarize. Se a pessoa disser que precisará usar um sapato fechado na segunda-feira, então...

Taí a diferença do bom e do justo. Outro ótimo exemplo dos bons são os pais... ou a maioria deles. Em especial as mães, que tudo perdoam, que minimizam nossos defeitos, tomam nosso partido antes mesmo de entender em o que está acontecendo. Não conheço bondade maior depois de Maria, Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce. Justo é o mundo lá fora, que não faz distinção e que segue ensinando, tanto pelo amor, quanto pela dor. Que impele cada um de nós a fazermos escolhas e depois nos obriga a arcar com as consequências. Não conheço precisão maior depois de João Dória Júnior, Roberto Justos e Max Gehringer: “Você está demitido”!

Na vida real precisamos nos reconhecer nesse processo, assumir um papel. E fique tranquilo que existe lugar reservado para todos. O mundo pra ser mundo precisa tanto dos bons, quanto dos justos, de outro modo sairá dos eixos. Quer saber, talvez seja nesse equilíbrio de amor e responsabilidades, doações e cobranças, que possamos encontrar a verdadeira face da bondade!

Fui...

Jr Vilanova.

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sábado, 12 de novembro de 2011

O QUE EU QUERO SABER DE VERDADE!



No título do novo cd de Marisa Monte ela pergunta: “O que você quer saber de verdade?”. Particularmente, respondo sem mais delongas: “Quando teremos um trabalho a altura dos impecáveis ‘Mais’ e ‘Cor de rosa e carvão’?”.


Não quero dizer com isso que o novo disco é necessariamente ruim, tão pouco que não gostei ou que não recomendo, não é isso. Nem sou louco de assumir uma responsabilidade dessas baseado apenas no meu gosto pessoal... estamos falando de uma das melhores artistas do Brasil, quiçá do mundo. Apenas registro que, três anos depois do último trabalho, um documentário no formato DVD+CD com 09 canções ao vivo, frutos da turnê “Infinito ao meu redor”, confesso que espera ser surpreendido.


Vou além nas explicações. Tenho a impressão que depois do estrondoso sucesso de “Tribalistas” (2002), Marisa elegeu um novo estilo, que alterou sua maneira de conceber música. Não por acaso, a cada novo projeto, lá estão sempre bem misturados os parceiros Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes e os resultados sempre muito parecidos, familiares demais. Apesar dos anos de intervalo de um trabalho para outro, quase todos possuem a mesma feição. Assim não envelhecem, mas também não amadurecem! Rugas as vezes fazem toda diferença.


Se um amigo imaginário chegasse agora de outro planeta e me perguntasse: “Mas qual o estilo musical dessa tal de Marisa Monte?”, responderia em "marcianês": um “brega popular politicamente correto”! E “politicamente correto” por se tratar de uma cantora acima de qualquer suspeita, de quem se convém aceitar quase tudo, sejamos sinceros. Vejamos, após escutar o novo cd, poucos se surpreenderiam se descobrissem que a até então inédita “Aquela velha canção” fora um grande hit na época da Jovem Guarda... que Roberto Carlos cantará “Depois” em seu especial de fim de ano, que virará um cd de inéditas... que uma apresentadora infantil resolveu regravar “O que você quer saber de verdade” no próximo disco só pra baixinhos... que “Ser feliz” estourou no carnaval de Salvador na voz de uma importante cantora de trio elétrico e concorre ao Prêmio Dodô e Osmar! E mais, que a Banda Aviões do Forró promete balançar Campina Grande com o sucesso “Hoje eu não saio, não”! A diferença é que dessa vez não seria Marisa Monte cantando e aí talvez não fôssemos tão tolerantes, não as aprovássemos com tamanha imparcialidade.


Claro que não existe nada de errado nisso. Mérito de sua inteligência, coragem e profissionalismo. No meu caso, talvez seja só saudosismo. O “efeito surpresa” dos discos anteriores aqui citados me marcaram, só isso. Marisa sempre se apresentou como uma inquieta pesquisadora e já promoveu vários resgates... chamou atenção para Clara Nunes num momento que o Brasil parecia tê-la esquecido, sem falar no disco "Tudo azul" (2000) e o documentário “Mistério do Samba” (2008), produzidos por ela no intuito de valorizar e guardar em lugar especial as verdadeiras raízes do nosso samba. Diga-me sinceramente, quem ousaria regravar “Ensaboa” de Cartola e Monsueto depois de ouvi-la na interpretação de MM? Quem hoje não tremeria nas bases musicais ao ter que regravar “Rosa”, de Pixinguinha e Otávio Costa? E ainda poderia citar “De noite na cama”, “Balança Pema” ou “Dança da Solidão”, de Paulinho da Viola... nessas também ninguém toca!


Para cantora, o que diferencia esse disco dos outros é a felicidade! Talvez seja uma fase. A fase de ser feliz e popular sem jamais perder a sofisticação. Se a idéia é essa, Marisa Monte conseguiu outra vez. Aliás, atualmente nada poderia ser mais popular gravar um clipe dançando valsa com o lutador de vale-tudo Anderson Silva, certo?




De um jeito ou de outro, poder fazer o que se quer é uma delícia!
Bons sons em sua vitrolinha!
Beijos.

Jr Vilanova.

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