quarta-feira, 12 de maio de 2010

'AOS POETAS CLÁSSICOS'



"Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.
Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.
No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.
Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.
Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.
Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.
Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.
Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.
Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô.
Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.
Dêste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lêsma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma."
Patativa do Assaré.

Outras palavra...

Cá estou, como prometido, para contar mais um capítulo da linda e comovente história desse nordestino conhecido como Patativa do Assaré, aliás, para os que não sabem, patativa é o nome de um pássaro muito comum por essas bandas e Assaré, a cidade cearense onde  viveu o poeta sertanejo.
Uma das principais figuras da poesia oral nordestina do século XX, Antônio Gonçalves nasceu em 5 de março de 1909 na Serra de Santana, uma pequena propriedade rural ao sul do Ceará. O apelido que virou marca registrada  lhe foi dado por volta dos 20 anos, quando já encantava a  cidade com seus repentes e poemas, que costumava declamar em companhia  da viola que ganhou de sua mãe, que precisou vender uma ovelha pra lhe dar o presente.
Conseguiu publicar seu primeiro livro em 1956, com a ajuda de José Arraes de Alencar, que convencido do seu potencial após ouví-lo declamar poemas na rádio Araripe, lhe deu o incentivo necessário e daí nasceu: "Inspiração nordestina"!

E assim segue a saga do nosso homenageado de maio... quarta que vem tem mais!
Beijos, viu?
Jr Vilanova.  

9 comentários:

Valdecy Alves disse...

Amigos poetas blogueiros, parabéns por utilizarem a internet como forma de dividir com o mundo o seu pensar, o seu compreender, desempenhando a missão do poeta que é se afirmar como ser humano, sobretudo perante si mesmo, captar os arquétipos coletivos de sua época e princípios universais, permitindo após compreender-se ou não compreender-se, que pela sua obra os da sua época tenham referência alternativa para fazer a leitura do mundo e as gerações posteriores entenderem a própria história da humanidade. Tudo temperado pelo sonho, pela sensibilidade e pela utopia. PASSOU A ÉPOCA DE ESCREVERMOS E GUARDAR NA GAVETA NOSSAS CRIAÇÕES DEPOIS DOS MAIS PRÓXIMOS FINGIREM TER LIDO PARA NOS AGRADAR. Através do meu blog quero aprensentar-lhes a video-poesia, que usa várias linguagens de uma só feita, a serviço do texto. Se gostar divulgue e compartilhe com os seus contatos. Acessar em:

www.valdecyalves.blogspot.com

Valéria lima disse...

Jr. eu estou começando a gostar do poeta Patativa do Assaré, que até então não conhecia, graças as suas postagem meu horizonte cada vez mais se amplia.

BeijooO'

Carol Sakurá disse...

OLá,Junior!
Quem mimo!
É literatura de cordel?
Beijos!
Tentei postar coments várias vezes,mas creio que o blogger estava com problemas.
Caso haja mais de um coment,peço que exclua.

Wanderley Elian Lima disse...

Junior também é cultura. É sempre bom saber um pouco mais sobre quem escreve os poemas.
Bjux

chica disse...

Estou adorando essa homenagem.Ele é muito bom! um abração,chica

Unknown disse...

Fico encantada com as palavras desse senhor... quanta sabedoria escondida num português simples, emversos aparentemente humildes! Daí ico me perguntando quantos outros tesosuros existirão perdidos por aí... cultura é vida, gente!
AMEI!
Beijo no coração.
Cris.

lis disse...

É a poesia pura de um poeta ao sabor de sentimentos e rimas.Muito bom ler e agradeço sua boa escolha.
Meus abraços e boa noite com ou sem a chuvinha boa.

Ingrid Martins disse...

Nossa, muito bom isso, a poesia sempre é linda...
beijo e boa tarde :*

Dalva Nascimento disse...

Muito legal essa divulgação de Patativa do Assaré! Nossa riqueza poética carece mesmo de divulgação.

Bjs.

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