Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
Outras palavras...
"Quando morreu, em 1977, Clarice Lispector era uma das figuras míticas do Brasil, a Esfinge do Rio de Janeiro, uma mulher que fascinava os brasileiros praticamente desde a adolescência. "Ao vê-la, levei um choque", disse o poeta Ferreira Gullar, relembrando o primeiro encontro entre os dois..." (Trecho do livro "Clarice,", doAutor: Benjamin Moser, Editora: Cosac Naify).
Eu nasci em 77, o ano que o mundo perdeu Clarice Lispector - que nasceu em 10/12/1920 e curiosamente veio a falecer também no mês de dezembro, só que no dia 09. A poesia ainda nem tinha entrado na minha vida e eu já ficara órfão, mesmo só me dando conta disso muitos anos depois. Hoje, aos 32, me encontro ávido por mais detalhes que me permitam interagir de alguma forma com esse universo enigmático proposto pelo seu legado...
A ucraniana mais brasileira que já existiu - sim, é isso mesmo, se você não sabia, ela nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia - na reaidade se chamava Haia, chegou no Brasil em março de 1922, de navio, onde desembarcou no nordeste brasileiro, mais especificamente, imagine você, na minha cidade natal, em Maceió. Aí, já morando em Alagoas, recebeu o nome de Clarice. Permaneceu na cidade até 1925, quando mudou-se com a família para Recife-PE. (Você pode saber um pouco mais clicando no nome de Clarice abaixo do texto ou aqui)
...
A autora era insuperável em suas reflexões, pertubadora em suas constatações e sensivelmente envolvente em sua poesia! Sua mais nova biografia, "Carisse," , escrita após uma pesquisa de cinco anos, realizada pelo americano Benjamin Moser - mais um apaixonado pela autora, que descobriu Clarisse após ler o livro "A hora da estrela" (também e 1977) num curso de português -, será lançada oficialmente no Brasil próximo dia 26/11, às 19h30m, na Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro. Dia 28 será a vez de Recife receber o biógrafo (Os 100 primeiros compradores, em cada um dos lançamentos, ganham um pôster da foto de Clarice feita por Claudia Andujar, que ilustra a capa do livro no Brasil).
A iniciativa certamente servirá para desvendar com maior propriedade a vida dessa personalidade e fortalecer ainda mais sua imagem no mundo, visto que esse trabalho já representa um sucesso de crítica fora do país. A biografia, lançada nos Estados Unidos em agosto de 2008 (foto ao acima), teve resenhas positivas no New York Times, The Times, Economist, Los Angeles Times, e a autora chegou a ser comparada a James Joyce, Virginia Woolf e Franz Kafka. Nada mal...
Não vejo a hora de estar com o meu exemplar em mãos e registro hoje, como de costume, essa excelente dica de leitura... pelo menos estou apostando todas as minha fichas no título. Quem já leu, por favor, faça suas considerações!
“Uma vida acaba, mas uma biografia permanece aberta. Novos fatos sempre aparecem” - palavras de Benjamin.
Beijos.
7 comentários:
A palavra é o meu domínio sobre o mundo.
Clarice lispector
Belíssimo texto!
Abs!
Carol Sakurá
e é por isso q acho os blogs tao importantes.. A gente se expressa por eles... e deixa um pouco do que pensamos, nosso legado. Vai que um dia alguém reconhece isso tudo!?!? rs...
Meu amigo, amei o post de hoje, Clarice é sem dúvida uma das maiores escritoras brasileiras. Parabéns pelo bom gosto.
Abração
Maravilhosa Clarice... poderosa! Sempre acertou na mosca em tudo o que escreveu. Parece que fala prá nós, ou de nós!
Beijos, Junior!
Você e sua mania de deixar a gente com água na boca, hein... eu adodo Miss Lispector e depois desse seu texto de hoje, farei o possivel pra descobrir ainda mais sobre ela (que eu nem sabia sobre sua nacionalidade, imagine)...
Amei.
Cris.
Alagoas...
Terra de gente talentosa
(Que aqui nasce e aqui aporta...)
Mas aqui, conhece o 'desvalor'
E pode, mesmo vivendo, parecer morta...
Ainda bem que 'Clarisse' se mandou
A tempo de ser quem se tornou...
Pena para nós, que não a conhecemos mais,
Nem pudemos nos apresentar melhor.
Improviso 'poético-pessimista', mas... tem um pouco de verdade... (infelizmente...)
Adoro ela.
Abração, Jr! Excelente POST!
"Eu não escrevo o que quero, escrevo o que sou."
Clarice Lispector
E é assim que tem que ser, pois a poesia penetra no mais profundo de nossa alma!
Muiiito bom!!
bjss
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