Já falei aqui do 1º DVD de Vanessa da Mata. Hoje, com uma noção melhor desse trabalho, mesmo sem ser nenhum crítico de música formado, tenho condições de fazer considerações mais detalhadas. Ainda não li nada sobre o assunto, mas por gostar muito de música e acompanhar a cantora desde o lançamento do seu primeiro cd (melhor, antes do primeiro cd, através das canções “Viagem”, no cd “Sol da Liberdade”, de Daniela Mercury e com “A força que nunca seca”, no cd de Bethânia, de mesmo nome), me sinto a vontade para discorrer algumas linhas sobre as minhas primeiras impressões. Claro que as opiniões certamente irão divergir e acho ótimo que isso aconteça - para o bem da própria artista -. Cada um tem direito a uma percepção diferenciada num país democrático, por isso ninguém deve se influenciar completamente pelas minhas observações. Veja pra crer, depois me conte.
PARENTESE: não deixe de levar em consideração: ADORO a cantora Vanessa da Mata. Mesmo. É uma das melhores compositoras da atualidade na musica brasileira, não tenho dúvidas disso, tanto que corri pra comprar o DVD ainda quentinho nas prateleiras. Contudo, isso não me impede de expor uma visão mais crítica sobre seu trabalo, desde que esta seja sincera e imparcial!
Em suma, considero uma opção legal de entretenimento, embora confesse que pra mim deixou a desejar. Tinha tudo pra ser um grande registro. Havia inclusive uma obrigação de se fazer um grande registro. Esse projeto, como a própria cantora diz no documentário dos extras - que, diga-se de passagem, mais parece uma continuação do documentário “Minha intuição”, que saiu junto ao cd “SIM”-, demorou cerca de 6 anos pra ficar pronto, pra ser concebido e mesmo assim possui apenas 15 faixas no repertório principal (a grande a maioria do último cd que apesar de maravilhoso, convenhamos, já está “cansado de guerra”). Outra coisa estranha é que a captação do show ficou toda picotada, não segue uma seqüência contínua... Fizeram essa curta seleção inicial e distribuíram algumas outras canções nos extras, mesmo sendo estas parte integrante do mesmo show. Não entendi porque as músicas não foram colocadas na ordem de execução do show “Sim”! Considerei um CRIME uma música como “Case-se comigo”, uma verdadeira pérola composta por Vanessa, não estar no repertório principal. Senti falta de canções como: “Onde ir”, “A força que nunca seca”, “Música” (uma das mais belas da música brasileira), “Essa boneca tem manual”, “Nossa canção” (que embora seja de Roberto Carlos, ajudou a artísta a se tornar conhecida no Brasil), “Vem”, “Quem irá nos proteger”, que de tão lindas, mereciam ser homenageadas, imortalizadas ali também, pois se destacaram na trajetória dela de forma pontual... Onde foram parar essas jóias num primeiro registro ao vivo? Ainda mais quando ele demora seis anos pra ficar pronto. Esqueçamos também as músicas inéditas, não existe nenhuma de autoria da cantora! Outra coisa difícil de compreender! A única novidade que registrou foi “Acode”, que até então só havia sido gravada pela cantora Shirley de Morais no seu cd de lançamento (contudo, não representa uma inédita e ainda assim fico com a versão de Shirley... quem não conhece, compare).
Tem um reggue, “You don´t love me” e um trecho muito mal ensaiado de “Mamãe passou açúcar em mim”, enquanto canta “Viagem”, que também não possuem nada de inédito! Poderia também, quem sabe, ter aproveitado a escassez de novidades para registrar a música “Sereia de água doce”, que fez novamente para Bethânia e entrou no repertório do cd “Pirata” e do show “Dentro do mar de tem rio”, porém, que na voz da verdadeira autora ainda é uma novidade.
Mas existem pontos fortes também: A decoração do palco, que apesar de simples, é linda. O figurino, que classificaria como deslumbrante (na minha humilde opinião), só não é mais perfeito que o cenário de Paraty, onde foi gerado o projeto, aliás, a idéia mais original de todas! Nos extras, destaque para as duas faixas acústicas: “Um dia, um adeus”, de Guilherme Arantes (A minha preferida de todo DVD) e o clássico “As rosas não falam”, de Cartola (Onde Vanessa permite pela primeira vez que sua emoção tome conta da situação)! Na faixa “Ai, ai, ai”, coincidência ou não, São Pedro atende aos pedidos de um “banho de chuva” pro público - provavelmente ele percebeu que alguma coisa inesperada precisava acontecer ali para que as gravações não terminassem de maneira tão formal -. Os arranjos estão lindos, perfeitos, muitos são deliciosamente dançantes e bem diferentes, uma proposta anunciada desde o lançamento de “SIM”, onde a artísta ousou e resolveu mudar a cara do seu som! Tem uma participação (novamente em estúdio) de Ben Harper, lógico, no hit “Boa sorte”.
É isso. Fosse esse o primeiro trabalho da carreira de Vanessa da Mata, muito provavelmente estivesse eu avaliando de uma forma bem mais branda. Quem sabe até classificasse como um grande show, um grande projeto, pois mesmo com suas limitações, ela ainda consegue ser grande por suas idéias e sensibilidade. Porém, quando um artista se destaca e se consagra como ícone da música de um país, como aconteceu com a mato-grossense em seu curto tempo de carreira, passa a carregar consigo uma responsabilidade ainda maior, quase uma obrigação de superar-se e surpreender a cada nova investida em nome da arte. Estamos falando de uma grande poetiza. Como admirador do trabalho de cantores da nova geração como: Vanessa da Mata, Jorge Vercilo, Ana Carolina, Pedro Mariano, Maria Rita, Vander Lee, Zélia Ducan, Rita Ribeiro, Vânia Abreu, Daniela Mercury e outros, me recuso a me contentar com pouco. E conseguir juntar meia dúzia de músicas bonitas num trabalho ainda é muito pouco. Tem que trazer novidades, inovações mesmo.
Uma geração não muito distante dessa atual, que contava com nomes como: Chico Buarque, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho, Alceu Valença, João Bosco, Simone, Djavan e tantos outros, ainda hoje estão na estrada e ainda tentam se superar (embora nem sempre consiga) como se já não tivessem feito o bastante pela música desse país. E justamente pelas memoráveis trajetórias que construíram, lançaram às novas gerações da MPB grandes desafios! Se hoje em dia o mercado fonográfico não permite deixar o comercial de lado (e aí já estou falando de forma geral), que pelo menos seja capaz de caminhar paralelo ao comprometimento com a verdade de cada artista. Que consigam perseguir um objetivo comum, defendendo sua obra acima de tudo e não limitando-a a trabalhos retos, previsíveis, sem emoção só para tentar agradar a uma maioria!
Minha nota pro DVD “Vanessa da Mata – Multishow ao vivo”, pelo lugar privilegiado que ela ocupa hoje na nossa música, não por acaso, é: 6.0! Não passou por média. Só espero não ter que esperar mais seis anos, mais três trabalhos de estúdio para poder vê-la completa num palco, numa nova iniciativa áudio-visual.
Por fim, registro uma poesia linda da cantora, publicada no encarte do seu primeiro cd. Como não tem título, segue apenas o texto:
“É fácil não querer saber, ter medo e fugir
Ser um personagem distante
É fácil beijar quem pouco te mexe
O difícil é tremer
Desejar demais, arder em febre
Ter medo do que não se conhece
De descontrolar-se, de se perder, de se esquecer
Mas seguir adiante
Gelar as mãos
Suar o rosto corado de sangue
Ridicularizar-se
Palpitar o coração
Expor-se frágil dama, sendo homem ou mulher, as dolorosas boas penas
Se dar e as vezes se jogar a um desconhecido qualquer
Num gosto antídoto, intenso
Gostar do atrevimento e do profundo irrompendo
Fazendo-se viver realmente em dobro
Perceber o que não se fazia perceber
É um cisco o provisório demais
Não ser radical e inteiro ao que pode o bem
O bom mesmo é viver a generosidade da entrega
Responder ao aperfeiçoamento que não havia ainda
A soma do que começa e do que finda
A vida e a morte quando se beija
Às vezes coragem é ficar de frente
Tremer e não correr perante o gigante
Se sentir inocente
Sonhar numa plenitude como se tivesse chegado a eternidade
E de nada mais importar-se
Falar palavras tontas numa dicção solene
Sentir o coração rebelde chocalhando, chamando, querendo, pedindo, independentemente
E então não resistir a fome que a alma e o corpo temem
Se ver na letra que a música grita, que antes, careta, não se suportava
Num susto se percebe docemente que agora existe um único sentido
Uma resposta em nenhuma pergunta
Tudo se torna dele
Das intensidades do amor que vão da angústia a felicidade
E é talvez a única arte que a arte transmita ao homem em sua total integridade.”
Vanessa da Mata.
3 comentários:
eu ja voltei a comentar tudo kkkk,é incrivel como tudo que vc faz é legal e interessante
um beijão
Rapaz.. adoro vanessa da mata. Tava bem ouvindo o dvd hj...
realmente faltam outras cançoes perfeitas...
mas tá massa.
bjos
Olha como as coisas são engraçadas, comecei esse texto lendo com uma ansiedade maluca para saber cada detalhe sobre esse DVD que SEMPRE foi tão esperado por mim, sempre pensei "como Vanessa da Mata nunca gravou um DVD?" estava faltando em nossa estante,né? Comecei a ler ja pensando em correr amanhã para comprar o meu,mas durante a leitura fui perdendo aquela ansiedade de criança quando quer um brinquedo novo! Poxa Jr. como não tem "Onde ir" e "Música"? Genteee "Músicaaa" como asssiiiim??? Isso é um crime!!! Tem noção de quantas vezes o coração ja desparou ouvindo isso??ah não,estou muito triste! =( mas quero esse dvd mesmo assim! Seá que ela canta "Minha herança pra você"? o que é essa música meu Deus, me tranquiliza,serio,de verdade,bom...vou torce pra q esteja!
Eita Jr. falei demais,né? Prometo um dia deixar um comentário NORMAL assim como as outras pessoas deixam pra vc,tá? kkkkkkk
Beijos.
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