quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quinta do caos: "Vamos precisar de todo mundo"!

“Quando levo um estrangeiro pra treinar na baía – de Guanabara, Rio de Janeiro -, tenho vergonha. O lixo se prende na quilha e o esgoto domina o cenário. Um dia desviei de um cadáver. Eu me sinto um vaso sanitário”.

-Ricardo Winick, o Bimba, bi-campeão pan-americano de windsurfe, em entrevista para o jornal O Globo em março de 2009-

Quando em fim coloquei em prática a idéia de criar um blog, a nossa desatenta irresponsabilidade para com o futuro do planeta sempre esteve entre as minhas intenções de pauta. E não pense que essa vontade apareceu apenas de forma poética, pegando carona nos noticiários, documentários, previsões catastróficas de especialistas etc. Nasceu bem mais próximo de mim, ao observar meu entorno, minha rua, minha cidade, meus próprios hábitos! Aproveitando que hoje é quinta, o dia do “caos”, nada mais oportuno que instigar a todos a refletirem conscientemente sobre um tema tão essencial para garantia do nosso bem-estar!

Embora chocante, o cenário descrito por Bimba na entrevista em nada se difere da realidade de tantas outras cidades brasileiras... Vou além, de tantas outras cidades mundiais! Taí pra quem quiser ver, o descaso, a sujeira, o lixo, a poluição, o desmatamento, a muito que não se envergonha mais! Não se escondem e pior, parece que estamos nos acostumando com isso! Ontem choveu em Maceió e de manhã o cenário foi o mesmo: muito lixo nas praias, galerias entupidas, previsão antecipada do que será o nosso inverno que não é nem tão rigoroso assim!

Agora, antes de continuarmos essa conversa, peço que assista ao vídeo “ILHA DAS FLORES”, de Jorge Furtado, um verdadeiro “soco no estômago”! Nunca consigo postar vídeos, se não conseguir de novo, peço que acesse o link do youtube:
http://www.youtube.com/watchv=0V8eBvVzOqk&feature=related e depois me responda: Quantas mais Ilhas das Flores precisarão existir até que cuidemos direito da nossa casa?

Como já falei algumas vezes aqui, moro próximo a praia, que não é a mais frequentada da cidade, mas vive cheia de gente nos fins de semana! Sabe, não acredito no que vejo num final de tarde de sábado ou de domingo! A impressão que dá é que por ali passaram bichos e não gente e fica bem difícil acreditar que elas possam, um dia sequer em suas vidas, terem ouvido falar em educação ambiental – é, eu sei, certamente não ouviram mesmo -. Sem falar nas coisas que a maré traz pra beira quando está cheia e deixa lá quando está seca: garrafas pet, copos plásticos, sacos plásticos, brinquedos quebrados, tênis velho, lata de refrigerante e cerveja etc.

Nos finais de semana, antes do dia ir embora, paro pra observar aquelas pessoas desfrutando do seu lazer e me deparo com algumas cenas que me fazem crer que estamos todos em meio a um sono profundo, inertes a certas verdades! É curioso ver alguém estender sua toalha na areia do lado do lixo que outro alguém acabou de largar ali e deitar-se relaxada sem se importar com seu entorno! Eu particularmente não consigo! Outro dia vi um garotinho passeando com o pai pela areia, tinha tudo pra ser uma cena bucólica até que a alça da sandália do garoto se partiu... Ele não “contou história”, colocou o par de chinelos na mão, encheu o pulmão de ar e arremessou o calçado o mais longe que pôde em direção ao mar. O pai não disse nada, conseqüentemente, aprovando a ação! Pergunto: Que educação estamos dando as nossas crianças? É desse jeito que elas terão um futuro digno? Não esqueçamos que as pessoas responsáveis pelo futuro do país já nasceram, estão por aí aguardando o nosso direcionamento, porém, se não estivermos atentos e dispostos a ajudá-las, repetiremos os erros do passado!

E não estou falando só de pessoas de baixa renda não! Numa das minhas caminhadas flagrei também um senhor que bebia um espumante com mais três amigos em frente a sua considerável casa de praia... Ao término de sua bebida, assim como fez o garoto da sandália, também arremessou convicto a garrafa vazia ao mar... ela ficou ali boiando e ele pareceu ter ficado satisfeito por isso! Ah, e mais, com a taça na mão, completamente embriagado, perseguiu a pobre marinha farinha até prendê-la e, posteriormente, matá-la! Ou seja, o problema é geral!

Então não me resta outra opção senão pegar minha sacola plástica, minhas luvas amarelas e tentar minimizar um pouco aqueles efeitos nocivos ao meu meio ambiente. Sei que se trata de um trabalho de formiguinha, mas sinceramente não saberia dormir tranqüilo sabendo que toda aquela sujeira continua ali pronta pra contribuir com o grande lixão marítimo que o planeta criou e que não pára de crescer em algum lugar do oceano!

(...)

Moro num estado que possui 17 lagoas, além de contar com um extenso litoral com mais de 230 km de praias - bairrismos a parte - verdadeiramente paradisíacas. Contamos com uma tendência mais que natural para, principalmente, o turismo de sol e mar! O problema é que todos nós, autoridades, profissionais da área, sociedade em geral e até os próprios turistas, acreditamos que só isso é o suficiente. Olho para a orla marítima mais bonita do país e me pergunto como é que o proprietário do hotel que sobrevive única e exclusivamente da beleza dessa mesma praia pode ser irresponsável ao ponto de despejar os dejetos do seu estabelecimento nas galerias de águas pluviais da forma mais descarada possível! Como é que os donos das coberturas caríssimas e super valorizadas do bairro da Ponta Verde podem permitir que o mesmo aconteça com seus condomínios de luxo sem ao menos se sentirem constrangidos! E pra encerrar o assunto, onde estão as autoridades que não são capazes de compreender que não adianta nada direcionar seus esforços para captar cada vez mais turistas se a atividade no estado não é sustentada! Nossos recursos não são ilimitados, pelo contrário, enfraquecem a cada nova temporada turística! Todo mundo quer ganhar dinheiro fácil, ninguém quer ter tempo de cuidar do seu próprio “ganha pão” (ou seria mais apropriado dizer: "ganha dólares")!

Quando estive em Fernando de Noronha, em 2006, fiquei maravilhado com a forma sustentável que eles exploram o turismo lá! Um grande exemplo para todas as cidades turísticas do país, quiçá do mundo! Aterro sanitário, coleta seletiva, armazenamento de água da chuva pelas pousadas, praias com controle diário de visitas, fiscalização permanente, palestras educativas diárias para os turistas, taxa de permanência no santuário ecológico... E ainda assim, apesar de toda exigência, todo mundo sai de lá extasiado, pensando no dia de voltar! É uma questão de adaptação mesmo, de implementar uma nova cultura as pessoas!

(...)

Outro ponto interessante que gostaria de chamar a atenção é que esse alerta vem acontecendo não é de hoje. Ao contrário do que possa parecer, o tema não é nada moderno! Coincidência ou não, essa semana escutei no rádio do carro a música de Luiz Gonzaga que dizia: “Cadê a flor que estava aqui? Poluição comeu! O peixe que é do mar? Poluição comeu! O verde, onde é que está? Poluição comeu...”. E o repertório de Gonzagão nem era tão focado em temas assim! Daí pensei: a quantas gerações estamos discutindo os efeitos devastadores do homem no planeta? - Seja na música, nas artes, na literatura, na tv etc -. A quanto tempo estamos apenas reclamando das mesmas coisas e não fazendo nada? Continuamos sempre esperando que alguma ajuda caia do céu para nos salvar, mas lamento informar, acredito que já deu pra perceber que isso não vai acontecer, pelo contrário, as profecias religiosas apontam coisas bem menos “auspiciosas” vindo lá de cima!

Ainda sobre as coincidências, li num livrinho de bolso no supermercado a seguinte frase de Andy Warhol: “Dizem que o tempo modifica as coisas, mas na realidade é você quem tem de modificá-las”. Pois é, temos que modificar as coisas dando mais atenção aquilo que está ao nosso alcance. Existem coisas que podem ser feitas de onde estamos, não precisa ir longe! Basta se policiar, não jogar lixo na rua, recolher seu lixo na praia, organizar seu lixo em casa, não atirar coisas da janela do carro, do ônibus... Só adquirir produtos ecologicamente aprovados - do supermercado a concessionária -, buscar as procedências, não comprar sagui, papagaio, periquito na porta de casa, nem em outro lugar que não seja autorizado pelo IBAMA! Denunciar descasos com a natureza!
Tem um lance bem mais “sinistro” em jogo que envolve a super população da Terra, a necessidade de um controle sobre a nossa taxa de natalidade! Tem mais gente nascendo que morrendo! Precisamos de um planejamento em relação a nossas vidas, a vida dos filhos que virão!

Bem, acho que deveria concluir o texto com um último parágrafo que resumisse tudo, mas acabei de resolver que não vou fazê-lo! Quem vai terminar o texto é você... é a sua consciência... a sua reflexão pessoal! Termine esse texto com a sua própria conclusão e não esqueça, de alguma forma, somos TODOS responsáveis por TUDO que acontece na nossa casa e a nossa casa é a Terra também!

Agora umas fotos do meu estado - tão lindo e tão maltratado também - pra deixar o papo mais light e pra gente pensar o quanto é bom usufruir de um cenário perfeito, diferente do que o Bimba vê ao treinar! Mas não vamos nos iludir, está assim, mas não sabemos até quando permanecerá tão lindo! De perto ninguém é normal!
Apolinário Júnior
Música: “Sal da Terra” (Beto Guedes)
Intérprete: Roupa Nova (Part. esp. Ivete Sangalo).

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