"Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo
mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.
Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.
As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.
Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.
Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.
Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.
Pablo Neruda.
(in 'Cadernos de Temuco' /Tradução: Albano Martins).
Outras palavras...
Elegi o tema "mudança" para as nossas quartas-feiras (para quem ainda não percebeu, esse é o dia mais poético da semana no blog). E dentro desse amplo universo, a resistência e o desistímulo em relação a transformações internas também estão postos a reflexão, pois fazem parte da natureza humana!
Tudo na vida é relativo. Até o certo e errado da forma que conhecemos é relativo. O poema de hoje nos expõe bem isso. Achei a forma como Pablo Neruda coloca as palavras em "Não me sinto mudar", aima de tudo, muito honesta. E é esse o outro lado da moeda, porque nem sempre somos positivistas, nem sempre a espera por uma vida melhor convence. Ser positivo pode cansar também e não podemos ignorar isso.
Colocar-se sempre convicto perante os acontecimentos inesperados da vida é algo que não serve para muitos e refletir sobre isso as vezes é bem oportuno... Eis aqui o lado B da alma humana, o lado legítimo de quem resolveu não mudar e precisa ser compreendido por isso.
Tudo na vida é relativo. Até o certo e errado da forma que conhecemos é relativo. O poema de hoje nos expõe bem isso. Achei a forma como Pablo Neruda coloca as palavras em "Não me sinto mudar", aima de tudo, muito honesta. E é esse o outro lado da moeda, porque nem sempre somos positivistas, nem sempre a espera por uma vida melhor convence. Ser positivo pode cansar também e não podemos ignorar isso.
Colocar-se sempre convicto perante os acontecimentos inesperados da vida é algo que não serve para muitos e refletir sobre isso as vezes é bem oportuno... Eis aqui o lado B da alma humana, o lado legítimo de quem resolveu não mudar e precisa ser compreendido por isso.
Boa quarta-feira,
Jr Vilanova.
4 comentários:
Voilá...Adorei!!!
Não conhecia essa poesia de Neruda.
E fui bebendo o versos extasiada até chegar no final e descobrir de quem era.A mudança por ele tratada me fez lembrar da música de Teatro Mágico: "Onde as meninas brincando no portão, tem horas que são senhoras, tem horas que oração". Também adoro as quartas feiras, mas amo as sextas e os sábados.
Beijos
Eu adorei a frase; "Eu não peço nada, nem um pouco de mundo".
Porém, adaptando à minha realidade, eu diria que adoraria um pedacinho do mundo neste exato momento.
Abraços e ótima quarta-feira pra todos.
Adorei popó,
Este poeta escreveu frases e poemas belissímos. Conheço um pouco dele por que um amigo, que infelizmente não está mais entre nós, vivia lendo suas poesias e frases. Adorava quando ele recitava algumas que já sabia de cabeça. Uma delas que conhecí em 1992, quando estudavámos juntos era esta:
Sê
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Diga ai Popó, se não é maravilhoso!
Neruda era de uma sensibilidade com a estima emocional das pessoas que me deixava na quela época fascinado, e ainda deixa, é claro.
Muito, muito obrigado popó! Você me transportou a lembrar de épocas maravilhosas da minha vida estudantil, e de coisas que a tempos n lembrava.
Fica com Deus
Beijos
Ôpa, vim só lhe visitar que tens um selo lá pra ti no meu blog.
Fica na Paz,
Abraço.
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